segunda-feira, 1 de julho de 2013

PARTE 03

O avião começou a decolar e assim que ganhou os ares, ouvi a voz estridente de Rose vinda de lá de trás.
“Filho da mãe!” ela exclamou, com um gemido. Eu me virei, olhando por cima dos bancos.
“Você está sentindo dor de novo?” Lissa perguntou preocupada.
“Você sempre teve problemas para voar?” Adrian perguntou, acenando para a aeromoça lhe trazer uma bebida, como sempre.
“Nunca. Droga, eu não quero passar por isso de novo.” Ela falou por entre os dentes. Realmente, era algo muito estranho. Ela estava muito bem, poucos minutos atrás, enquanto conversávamos e agora, estava sentindo dor novamente. Não era algo normal. Eu já tinha viajado de avião com ela algumas vezes e nunca tinha visto ela passar por isso. O silêncio veio de lá de trás e eu assumi que eles tinham deixado Rose descansar um pouco.
Passei boa parte do vôo ainda pensando nas palavras de Rhonda e relembrando de alguns acontecimentos da minha vida e minha família. A conversa com Rose tinha trazido velhas memórias e eu senti um certo saudosismo em mim.
Algumas horas se passaram, quando uma das aeromoças veio até Alberta.
“Qual o problema?” ela perguntou atenta.
“Uma tempestade de granizo passou pela área. Não poderemos pousar em St. Vladmir porque a pista está inacessível, por causa do gelo e do vento. No entanto, precisamos de combustível, então iremos pousar em Marinville Regional, um pequeno aeroporto a poucas horas de distância de carro da Academia, mas eles não foram muito afetados. Assim sendo, iremos pousar lá, para abastecer e esperar que eles limpem a pista. Fica a menos de uma hora por ar.”
Não era uma notícia boa, mas não era algo que podíamos controlar. Todos foram orientados a colocarem os cintos e se prepararem para o pouso. Mas assim que o avião tocou o solo, algo terrível aconteceu. Rose começou a gritar descontroladamente. Eu me levantei em um impulso e corri até a fileira onde ela estava, pouco me importando que o avião ainda estivesse em movimento. Lissa estava ao seu lado, apavorada, segurando seu braço e perguntando o que estava acontecendo. Rose parecia não ouvir e também parecia não ver o que tinha à sua volta. Seus olhos estavam estreitos, e ela fazia movimentos com as mãos, como se quisesse espantar algo que estava à sua frente. Mas não havia nada a não ser a poltrona do avião.
Sua expressão era de intensa dor misturada com pânico e desespero. Sua voz era apavorada quando começou a gritar novamente “Faça eles irem embora! Faça eles irem embora!”
Eu me abaixei até ela, chamando seu nome, na esperança dela responder, mas foi inútil. Em uma atitude desesperada, ela tentou freneticamente desatar seu cinto de segurança, com as mãos tremendo, em descontrole. Eu realmente não sabia o que pensar, não sabia se quer imaginar o que era aquilo que estava acontecendo, que estava se passando com ela. Não sabia que tipo de surto era aquele, só sabia que aquilo tinha mandado meu controle pelos ares. Eu senti meu corpo todo tremendo e não sabia o que fazer para ajudar. Não me importei com as outras pessoas que estavam lá, mas também acho que todos estavam tão preocupados com Rose que pouco se importaram se eu estava agindo de forma desesperada ou não. Eu a segurava pelos ombros, tentando trazê-la de volta ao mundo real, mas nada parecia adiantar. Ela começou a levantar os braços e a se mexer ainda mais descontrolada, em uma luta inútil contra o invisível. Ela se debatia e eu não conseguia mantê-la parada em seu assento.
Ela não respondia ao nosso chamado e, a cada momento, se tornava pior. E então, de repente, ela parou, tombando para o lado, inconsciente. Ela havia desmaiado.
'Você perderá o que mais valoriza'. A voz de Rhonda ecoava em minha mente. Será que ela estava se referindo a Rose? Será que ela se referia a este momento? Um silêncio cortante tomou conta do avião, todos olhavam apreensivos para ela. Todos pareciam em choque e sem reação diante daquele fato. Inclusive eu. Logo, voltei a mim e segurei o rosto dela, com as duas mãos.
“Rose? Rose? Acorde, Rose” falei, tentando me controlar. Ela permaneceu desmaiada.
“Ela está inconsciente, você não pode ver?” Adrian falou atrás de mim, sem a sua usual arrogância.
“O que vamos fazer? O que está acontecendo?” Lissa falou em meio às lágrimas.
“Precisamos de um médico. Alguém chame um médico!” Alberta falou para a aeromoça.
“Não podemos chamar um médico. Estamos em um aeroporto humano. Eles provavelmente têm um posto médico ou uma enfermaria, mas iriam querer interná-la em um hospital humano. Isso não seria bom.” O piloto do avião falou, com sua voz perfeita e controlada, apesar do seu rosto passar um pouco de preocupação.
“Eu tenho alguma noção de primeiros socorros, podemos realizar alguns procedimentos” falei, tentando parecer calmo, mas por dentro, o temor me consumia.
Rapidamente, forcei minha memória em busca dos procedimentos corretos para aquele caso. Realizei algumas manobras, abaixando a cabeça de Rose, o que a fez acordar, mas logo ela desmaiava novamente. Isso se repetiu várias vezes, enquanto estávamos em terra. Quando recebemos autorização para voar, optamos por deitar a poltrona e deixar tudo nas mãos da Dra. Olendzki, quando pousássemos na Academia. A poltrona dela foi inclinada ao máximo e eu me sentei ao seu lado, segurando um balão de oxigênio disponibilizada pela aeromoça. Lissa se sentou na poltrona da ponta, na fileira ao lado, com o rosto franzido de preocupação.
Eu mal conseguia conter meus sentimentos dentro de mim. Eu não conseguia imaginar o que ela tinha e nem conseguia medir a gravidade de tudo aquilo. A viagem para a Academia foi quase interminável. Quando chegamos, já tinha uma maca esperando por Rose na pista. Ela foi levada imediatamente para a clínica médica. Lissa queria vir conosco, mas Alberta achou melhor não permitir isso. Ela não queria chamar a atenção dos outros estudantes e aconselhou que Lissa fosse para o seu dormitório.
A Dra. Olendzki a levou para fazer alguns exames e eu e Alberta aguardamos na sala de espera. Eu olhava fixamente para a linha do piso, tentando afastar os maus pensamentos, até que finalmente, a médica apareceu na sala.
“Bem, em exames clínicos, seus reflexos sensoriais e motores estão perfeitos. Não existe alteração alguma. Aparentemente não existe uma causa física para este surto. Vamos mantê-la aqui até que ela acorde e façamos alguns outros exames complementares. Por enquanto, vamos esperar.” Ela falou calmamente.
Então fomos para a enfermaria onde Rose dormia e esperamos, mas não por muito tempo. Logo, que a Dra Olendzki começou a verificar seu pulso, ela acordou. Seus olhos estavam atentos, observando tudo. Nós nos aproximamos, e eu senti a apreensão tomar conta de mim, como eu queria que ela acordasse sem sequelas.
“Olá Rose. Como está se sentindo?” perguntou a médica.
“Ótima” ela respondeu olhando para mim e para Alberta.
Alberta limpou a garganta com um pigarro “Podemos?”
A Dra. Olendzki olhou para nós, acenando com a cabeça. Nós nos aproximando e eu pude olhar para Rose e constatar que ela estava bem. A onda de alívio que passou por mim era indescritível.
“Rose...” Alberta começou falar hesitante. Era raro para ela ficar em uma situação com qual não sabia lidar. Claramente ela não sabia sequer como começar, então assumi.
“Rose, o que aconteceu lá? E não diga que não foi nada dessa vez.” Falei antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. Eu sabia que ela iria querer parecer forte, mas neste caso, tudo estava além disso. Estávamos falando com um surto sem causas físicas.
“Só queremos ajudar você” a Dra. Olendzki acrescentou, empurrando seus óculos que estavam na ponta de seu nariz.
“Eu não preciso de ajuda. Eu estou bem”
“Você estava bem enquanto estávamos no ar. Mas quando pousamos, definitivamente, você não estava bem.” Alberta falou.
“Estou bem agora.” Rose respondeu friamente, sem olhar para nós.
“O que aconteceu, então?” Alberta continuou interrogando “Porque você gritou? O que você quis dizer quando disse que nós precisamos fazer ‘eles’ irem embora?”
Eu achei que Alberta estava sendo muito dura com ela. Rose não respondeu nada. Ficou pensativa por poucos segundos e, surpreendentemente, ela nos olhou com os olhos cheios de lágrimas. Ela novamente estava chorando e eu pude perceber que o motivo era o mesmo que a afligia quando conversamos depois da reunião do comitê dos guardiões.
“Rose,” eu murmurei perto dela, da forma mais suave que pude “por favor.”
Sua expressão mudou completamente e toda a dureza que ela ainda tentava transmitir se quebrou. As lágrimas saíam descontroladamente de seus olhos e ela olhou fixamente para o teto. Ver Rose tão triste assim fez meu coração se desmanchar no meu peito. Como eu queria fazer passar aquilo que estava a atormentando. Eu odiava olhar para ela e ver a dor em seus olhos. Tive que controlar a vontade de ir até ela e abraçá-la. Eu estava apreensivo com a explicação que ela daria por aquilo, mas quando ela começou a falar, definitivamente não era o que eu esperava.
“Fantasmas.” Ela sussurrou “Eu vi fantasmas.”
Aquilo surpreendeu, não só a mim, como a todos que estavam na enfermaria. O silêncio pairou por alguns momentos. Eu esperava por qualquer coisa, menos por aquilo. Então comecei a juntar as peças. A conversa com o padre Andrew voltou até mim. Ela estava sentindo isso há algum tempo. Não era possível. Fantasmas não existiam. Ao mesmo tempo, Rose não estava inventando nada. Ela não tinha nenhum vestígio de que estava brincando. Ela realmente achava que estava vendo fantasmas e isso estava a afligindo muito.
“C-como assim?” A Dra. Olendzki perguntou vacilante.
Rose engoliu. As lágrimas ainda brotavam de seus olhos e seus lábios tremiam “Ele tem me seguido nas últimas semanas. Mason. Pelo campus. Eu sei que parece loucura – mas é ele. Ou o seu fantasma. Foi isso que aconteceu com Stan. Eu congelei porque vi o Mason lá e não soube o que fazer. No avião... eu acho que ele estava lá também... e outros. Mas eu não conseguia ver ele quando estávamos no ar. Só deslumbres... e a dor de cabeça. Mas quando pousamos em Martinville, ele estava com sua forma completa. E – e ele não estava sozinho. Outros estavam com ele. Outros fantasmas.” Outra lágrima escapou dos seus olhos e ela limpou rapidamente. Ela nos olhou apreensiva, certamente com medo das conclusões que tiraríamos da sua explicação.
Eu não acreditava em fantasmas, mas eu acreditava em Rose. Ela não estava mentindo. Ela realmente pensava que tinha visto fantasmas e aquilo era verdade. Tinha que ter uma causa para isso. Eu precisava que ela nos desse mais detalhes, eu realmente queria ajudar de qualquer maneira que fosse.
“Você os conhecia?” perguntei, atraindo o seu olhar.
“Sim... eu vi alguns dos guardiões de Victor e as pessoas do massacre. Os... os familiares de Lissa também.”
Novamente, eu acreditava nela. Eu não sabia explicar como, mas eu acreditava piamente em seu relato, muito embora meu lado racional ainda me dizia que deveria existir uma explicação lógica para isso. Ninguém disse nada e nós nos olhamos, de forma questionadora.
“Posso falar com vocês dois em particular?” a Dra. Olendzki falou, nos olhando.
Nós saímos da enfermaria e fechamos a porta atrás de nós. Imediatamente a expressão da Dra. Olendzki se modificou e se tornou extremamente dura. Se a situação fosse outra, eu diria que ela parecia uma professora brigando com alunos que fizeram bagunça na sala.
“É óbvio o que está acontecendo. Aquela pobre garota. Ela está passando por um estresse pós traumático, e não é de se admirar, depois de tudo que o aconteceu” Sua voz era altamente irritada.
“Você tem certeza? Talvez seja outra coisa...” Alberta falou bastante hesitante. Com eu, ela parecia não conseguir encontrar uma explicação melhor para tudo.
“Vejam os fatos: uma garota adolescente que presencia seu amigo ser assassinado e depois tem que matar o seus assassinos. Vocês não acham que isso é traumático? Vocês não acham que isso teve um mínimo de efeito nela?”
Realmente, nós cobrávamos muito de Rose. Cobrávamos que ela fosse dedicada, disciplinada, forte, invencível. Esquecíamos que ela era apenas uma menina que estava começando a vida. Ela era muito jovem e já tinha vivido mais tragédias que muitos guardiões. Nós deixamos com que ela passasse por todos os últimos acontecimentos sem qualquer orientação, lidávamos como se tudo fosse natural. Por mais que fosse a realidade para a maioria dos guardiões, definitivamente não era o natural.
“Tragédia é algo com o que todos os guardiões têm que lidar.” Alberta falou refletindo parte dos meus pensamentos. Mas não foi uma colocação feliz dela. Ser um guardião não queria dizer que estávamos imunes a traumas.
“Talvez não tenha muito que possa ser feito com os guardiões em campo, mas Rose ainda é uma estudante nossa. Existem recursos que podem ajudá-la.”
Aquelas palavras dela me encheram de esperança. Qualquer coisa que pudesse ajudar a Rose era bem vida, então, perguntei rapidamente “Como o quê?”
“Aconselhamento. Falar com alguém sobre o que aconteceu pode ser muito bom para ela. Vocês deveriam ter feito isso assim que ela voltou. Deveriam ter feito isso também pelos outros que estavam com ela. Porque ninguém pensa nessas coisas?”
Era isso. A Dra. Olendzki tinha chegado em um ponto que me parecia totalmente condizente com todo ocorrido. Rose havia passado por um trauma e precisava de ajuda profissional, nada melhor então do que ter aconselhamentos com uma psicóloga. Isso iria fazer muito bem a ela.
“É uma boa idéia. Ela poderia fazer isso no seu dia de folga” falei sentindo a esperança crescer em mim, ela teria um tratamento adequado.
“Dia de folga? Ela deveria fazer todo dia. Vocês deveriam retirá-la da experiência de campo. Ataques de falsos Strigois não é a forma correta de se recuperar de um ataque real.”
“Não!” Rose falou, entrando abruptamente na sala. Era óbvio que ela não iria ficar quieta esperando, enquanto debatíamos sobre sua vida. Ela estava ouvindo atrás da porta e se moveu em um impulso, só depois dando conta que tinha se denunciado.
Imediatamente a Dra. Olendzki reassumiu sua postura de médica preocupada “Rose, você deveria ir se deitar.”
“Eu estou bem” Rose falou rapidamente “você não pode me fazer ficar fora da experiência de campo. Eu não vou me formar se eu desistir.”
“Você não está bem, Rose e não tem motivos para sentir vergonha pelo que lhe aconteceu. Pensar que está vendo fantasmas de pessoas que já morreram não é muito estranho, quando você considera as circunstâncias.”
Rose a olhou defensivamente, mas logo recuou “a não ser que você vá me colocar em aconselhamento vinte e quatro horas por dia, você só vai fazer as coisas piorarem. Eu preciso me ocupar. A maioria das minhas aulas está suspensa. Então, o que vou fazer? Esperar? Pensar de novo e de novo no que aconteceu? Eu vou ficar louca - de verdade. Eu não quero sentar e esperar para sempre. Eu preciso movimentar o meu futuro.”
Eu tinha que admitir que ela estava coberta de razão. Alguém como Rose não podia simplesmente seguir a vida na inércia. Ela tinha que se achar em movimento, ela tinha que participar das coisas, além do mais, ficar ociosa só iria deixar tudo pior para ela. Todos nós nos olhamos, claramente aceitando os argumentos de Rose.
“Ainda não acho prudente submetê-la a toda essa simulação de ataques de Strigois. Isso pode desencadear reações ainda piores” A Dra. Olendzki manteve sua posição.
“Nós temos que admitir que deixá-la ociosa o dia inteiro não irá ajudar. Ela precisa de uma distração, algo que a deixe ocupada. Talvez se pudéssemos conciliar a experiência de campo com as sessões de aconselhamento, ela poderia treinar em um período e ver a psicóloga em outro” falei, tentando buscar uma solução para ambos os lados. No final das contas, Rose sairia ganhando.
“Para mim, parece uma boa solução, Belikov. Concordo também que o aconselhamento será bom para que ela lide melhor com os ataques de falsos Strigois” Alberta falou, em um tom de assunto decidido.
“Eu aconselharia reduzir as experiências de campo. Talvez para três dias. Também não precisaria que ela participasse à noite, afinal, vocês raramente atacam os quartos, enquanto eles dormem.” A Dra. Olendzki sugeriu.
“Essa pode ser uma boa alternativa, desde que ela mantenha as aulas que tem com você, Belikov. Você tem feito um bom trabalho e ela tem feito grandes progressos, não podemos abrir mão disso.”
“Acho que ambas as propostas são boas. Ela terá meio período de treino e participará da experiência de campo em três dias da semana. E ainda irá ver um conselheiro.” Falei, concluindo o assunto. Rose nos olhava, com uma expressão que dizia que ela não estava concordando com aquilo, mas sabia que ela não teria escolhas melhores.
“Bem, isso é melhor que nada.” A Dra. Olendzki disse se voltando para Rose “por hora, precisamos concluir alguns exames. Você me acompanha para a sala ao lado?”
Ela levou Rose para realizar mais alguns exames complementares e logo depois, a libereou para ir ao seu dormitório, com recomendações de descansar um pouco. Alberta disse que precisava resolver alguns assuntos que ficaram pendentes com a sua ausência e se retirou. Eu fiquei para levar Rose até seu quarto. Eu realmente estava precisando ficar sozinho com ela. Enquanto caminhávamos pelo campus, eu comecei a arrumar os meus pensamentos, sem saber como a dizer tudo que eu queria.
“Obrigada por pensar naquela coisa do meio período” Rose falou, calmamente ao meu lado.
Eu não estava mais me contendo, não estava mais aguentando guardar toda aquela preocupação dentro de mim, então parei abruptamente, me colocando à sua frente. Ela parou, quase me dando um encontrão, escorregando um pouco. Eu a segurei pelo braço, puxando ela para perto de mim. Rose me olhou assustada, obviamente ela não esperava que eu fizesse um contato físico destes, assim em um ambiente aberto. Mas era madrugada para todos da Academia, provavelmente ninguém nos veria. E, com sinceridade, as outras pessoas não estavam importando para mim, naquela hora. Não estava mais interessado em esconder o quer que fosse, sentimentos, aflições, medos, nada. Não naquele momento. Eu só conseguia pensar no que tinha se passado com Rose e o quanto aquilo me abalou.
“Rose, essa não deveria ter sido a primeira vez que eu ouvi sobre isso! Porque você não me contou? Você sabe como foi? Você sabe como foi para mim ver você daquele jeito sem saber o que estava acontecendo? Você sabe o quão assustado eu fiquei?” Eu explodi. Senti uma avalanche de emoções dentro de mim, emoções que eu não podia e nem queria controlar. Eu sentia que toda máscara que eu tinha para me manter oculto para as pessoas, não existia mais ali.
“Mas você não tem medo de nada” Rose disse, com seu rosto demonstrando uma certa incredulidade. Ela realmente tinha uma visão muito iludida minha. Várias e várias vezes ela fazia essas colocações como se eu fosse a pessoa mais perfeita do mundo. Eu não era como ela imaginava, ela precisava enxergar isso.
“Eu tenho medo de muita coisa. Eu senti medo por você.” Eu a soltei e dei um passo atrás para poder olhá-la melhor “eu não sou perfeito. Eu não sou invulnerável.”
“Eu sei, eu só...”
“E isso tem acontecido há muito tempo também. Estava acontecendo com Stan, e quando você conversou com o padre Andrew sobre fantasmas - você estava lidando com isso o tempo todo! Porque você não contou a ninguém? Porque você não contou para Lissa... ou... para mim?”
Ela olhou para mim, encarando fixamente os meus olhos.
“Você teria acreditado em mim?”
“Acreditado no quê?” eu disse, franzindo as sobrancelhas.
“Que eu estou vendo fantasmas.”
“Bem... eles não são fantasmas, Rose. Você apenas acha que eles são porque-“
“Foi por isso” ela me interrompeu “foi por isso que eu não podia lhe contar ou a qualuqer outra pessoa. Ninguém acreditaria em mim, não sem pensar que eu estava louca.”
“Eu não acho que você esteja louca. Mas eu acho que você passou por muita coisa.”
“É mais que isso.” Ela falou, dando um passo atrás, claramente tentando se afastar de mim. A nossa conversa ainda não tinha terminado, eu não deixaria que ela fosse embora assim. Em um único gesto, eu a puxei para mim novamente e ficamos muito, muito perto um do outro. Ela olhou rapidamente em volta, provavelmente se perguntando se alguém nos veria naquela posição tão comprometedora. De novo, eu não conseguia me preocupar com mais nada, a não ser com tudo que tinha acontecido. Todo o contexto que estávamos, parecia pequeno, perto do medo que eu estava sentindo diante da possibilidade de a perder. Era isso que eu sentia: muito medo de perder Rose.
“Então me diga. Diga o quê é mais do que isso?”
“Você não vai acreditar em mim. Você não entende? Ninguém entende. Até você, de todas as pessoas.” Essas últimas palavras não foram mais do que um sussurro. Mais uma vez ela não estava confiando em mim. Ela não conseguia enxergar que não era uma questão de acreditar ou não nela. Era uma questão de confiança. Eu confiava plenamente nela e era capaz de entrar em qualquer coisa por ela. Não importava se aquilo fosse de encontro a tudo que eu acreditasse. Ela precisava confiar em mim assim também.
“Eu vou... tentar. Mas eu ainda acho que você não sabe ao certo o que está se passando com você”
Rose me olhava com muita firmeza, embora um existisse um receio escondido atrás daquele olhar.
“Eu sei o que está acontecendo comigo. E é isso o que ninguém entende. Olha você tem que decidir de uma vez por todas se você realmente confia em mim. Se você acha que eu ainda sou uma criança, muito inocente para saber o que está acontecendo com a minha mente, então você deveria continuar andando. Mas se confia em mim o suficiente para lembrar que eu vi e vivi coisas que ultrapassam aqueles da minha idade... bem, então você deveria entender que eu talvez saiba um pouco sobre o que eu estou falando.”
Uma brisa quente passou por nós e, eu não sabia dizer se era devido ao fim do inverno ou ao calor da conversa.
“Eu confio em você Roza. Mas... eu não acredito em fantasmas.”
Tudo em Rose se resumia em ela querer que eu acreditasse que eram realmente fantasmas. Aquilo estava fora do meu alcance. Não era algo que eu podia mudar tão facilmente em mim. Mas como eu disse, eu confiava nela e isso abria um pouco a minha mente para que eu ao menos tentasse entrar no mesmo campo de visão dela.
“Você vai entender? Ou pelo menos vai tentar não ver isso como algum tipo de psicose?”
“Sim. Isso eu posso fazer.”
Então, finalmente, Rose me contou tudo. Desde quando ela viu Mason pela primeira vez, do incidente com Stan, até o que se passou no avião. Ela contou como Mason sempre parecia querer lhe dizer algo, apontando para algum lugar. Ela narrava tudo com riquezas de detalhes, de totalmente lúcida. Não parecia que ela estava criando consciente ou inconscientemente aquelas coisas. Ao mesmo tempo, não era algo que pudéssemos explicar, de forma racional, como um acontecimento real.
“Não parece meio, hum, específico para uma reação de estresse, ao acaso?” ela finalizou perguntando.
“Eu não sei se você pode esperar que ‘reações de estresse’ sejam por acaso ou específicas. Elas são imprevisíveis por natureza.” Eu estava tentando manter minha mente aberta, mas não podia deixar de ser racional. “Como você pode ter tanta certeza que não são apenas coisas de sua imaginação.”
“Bem, a princípio eu pensei que estava imaginando tudo. Mas agora... eu não sei. Tem algo sobre isso que parece real... mas eu sei que isso não pode ser considerado uma evidência. Mas você ouviu o que disse o Padre Andrew – sobre os fantasmas ficarem por aqui quando morrem de forma violenta.”
Eu estava prestes a dizer para que ela não seguisse à risca tudo o que o padre falava, principalmente em se tratando desse assunto. Ele era um homem estudioso e especialista em religião, porém vez por outra colocava a sua opinião nas questões. Mas consegui me conter, aquele não era um conselho muito bom para dar a Rose, então achei melhor me aprofundar nas teorias dela e não contestas as palavras do padre. Assim, eu poderia entender melhor o que estava se passando em sua mente.
“Então, você acha que Mason voltou para se vingar?”
“Eu achei isso no começo, mas agora não tenho tanta certeza. Ele nunca tentou me machucar. Apenas parece que ele quer algo. E então... todos os outros fantasmas também estão parecendo querer algo – mesmo aqueles que eu não conhecia. Por quê?”
“Você tem uma teoria” eu disse, tendo certeza que ela já tinha uma boa explicação, bem ao estilo Rose, para tudo aquilo. Com certeza, não seria uma explicação com muito embasamento, mas sempre era interessante sua maneira de pensar.
“Eu tenho. Eu estava pensando sobre o que Victor disse. Ele mencionou que por eu ser uma shadow kissed – por que morri – eu tenho uma conexão com o mundo da morte. Que eu nunca vou deixar isso inteiramente.”
Eu não gostei dela ter mencionado Victor e nem de ter levado a conversa dele a sério “eu não apostaria todas as minhas fichas nos que Victor Dashkov disse a você.”
“Mas ele sabe das coisas! Você sabe que ele sabe, não importa o quão filho da puta ele seja!”
“Ok, vamos supor que isso seja verdade, que ser uma shadow kissed permite que você veja fantasmas. Porque isso está acontecendo só agora? Porque não aconteceu logo depois do acidente de carro?”
“Eu também pensei nisso. Foi outra coisa que Victor disse - que agora eu estava lidando com a morte, que eu estava mais perto do outro lado. E se causar a morte de outra pessoa fortaleceu a minha conexão e agora tornou isso possível? Eu acabei de matar alguém, duas pessoas.”
“Por que é tão acidental?” perguntei, ainda buscando com que Rose despejasse tudo que ela pensava que sabia sobre isso e tentando encontrar vestígio de alguma evidência concreta em todas aquelas teorias dela “porque aconteceu quando aconteceu? Porque no avião? Porque não na Corte?”
O entusiasmo que ela estava demonstrando anteriormente diminuiu um pouco “o quê você é? Um advogado? Você está questionando tudo que eu estou dizendo. Eu pensei que você tivesse dito que iria manter a sua mente aberta.”
“E eu estou mantendo. Mas você também precisa manter. Pense bem. Porque este padrão de visões?”
“Eu não sei” ela falou triste e derrotada “você está pensado que eu estou louca.”
Eu segurei seu queixo, levantando a sua cabeça, de modo que eu pudesse olhá-la nos olhos.
“Não. Nunca. Nenhuma destas teorias me faz pensar que você é louca. Mas eu sempre acreditei que a explicação mais simples para tudo isso faz mais sentido. Como pensa a Dra. Olendzki. A teoria dos fantasmas possui furos. Mas se você puder descobrir mais... nós podemos ter mais material para trabalhar.”
“Nós?”
“É claro. Não vou deixar você sozinha nisso, não importa o que seja. Você sabe que eu nunca vou lhe abandonar.”
Ela me olhou, como se aquelas palavras fossem novidade para ela. Mesmo assim, ela procurou fazer uma piada, como era de sua natureza. Foi uma piada que me fez bem, pois mostrou que ela estava em suas perfeitas faculdades mentais.
“Eu não vou lhe abandonar, você sabe. Eu quero dizer... não que este tipo de coisa vá acontecer com você, é claro, mas se você começar a ver fantasmas ou algo assim, eu vou lhe ajudar.”
“Obrigado.” Falei sorrindo suavemente. Nós pegamos a mão um do outro e ficamos aproveitando aquele raro momento que podíamos viver a nossa conexão de forma toa despreocupada. Depois de um curto tempo, instantaneamente, soltamos as nossas mãos, ao mesmo tempo.
Fomos caminhando até o dormitório dos estudantes dhampirs.
“Você ficará bem sozinha?” perguntei, quando chagamos no lobby, próximo a entrada que daria para a porta de seu quarto. A vontade que eu tinha era de entrar e ficar com ela o resto da noite. Mas não eu não podia. Mesmo que ela respondesse que não se sentiria segura sozinha, aquela porta era o limite para mim.
“Eu já estou bem, camarada, não pode ver?” ela respondeu sorrindo, em seu usual bom humor. Eu assumi que ela falava a verdade.
“Eu vou para o meu quarto também. Foi um dia exaustivo, vou tentar descansar um pouco, amanhã reassumirei a experiência de campo. Qualquer coisa, não hesite em me procurar.”
Ela acenou com a cabeça e eu tomei a direção do meu quarto.
Os dias seguintes se passaram calmos. Eu tinha retomado a minha rotina na escola, a que eu tinha antes de viajar para a Corte. Bem, quase. Antes, eu treinava com Rose antes e depois das aulas. Agora, só tínhamos um período de treino e estes períodos variavam entre de manhã cedo ou no final do dia. Tudo dependia do horário que ela tinha agendado com a conselheira da Academia. Nós não falamos mais sobre o que aconteceu no avião ou sobre a conversa que tivemos, eu tinha decidido que não iria retomar aquele assunto, a não ser que ela mesma o provocasse. Eu precisava testar se ela confiava em mim. E, também, ela precisava de um tempo só dela. Mesmo assim, cada vez mais eu me sentia próximo a ela e era difícil de resistir a tanta proximidade. Cada olhar, cada sorriso, cada toque, mesmo que casual, era uma verdadeira tortura para mim. Eu não conseguia mais trancar tudo que eu sentia por ela dentro de mim, pior, eu não queria mais guardar tudo aquilo. Eu ainda era atormentado pelas palavras de Rhonda e algo me dizia que cada minuto que eu passava longe dela era um minuto perdido na minha vida. O pior era que eu não sabia se eu tinha esse tempo para perder. Apesar de ser sempre bem racional e de raramente me deixar levar por intuições, eu tinha um pressentimento que algo sério estava para acontecer. Algo muito ruim. E eu realmente esperava que isso não envolvesse Rose.
Todos os dias, eu me reunia com os demais guardiões da Academia para organizarmos os ataques aos alunos, e ali eu podia ver como todos estavam preocupados com Rose. Aquele surto tinha tido muita repercussão entre eles, muito embora os estudantes não tivessem tomado ciência do ocorrido. Eu pude sentir que o quê Alberta tinha falado para a Dra. Olendzki não era algo que funcionava muito bem, na prática. De fato, os guardiões deveriam aprender a lidar com tragédias, mas era claro que muitos deles não tinham superado seus próprios traumas. Era como se a maioria tentasse dar a Rose a chance que eles mesmos não tiveram.
Por vários dias, eles tinham optado por não realizar ataques a Rose, não sem antes analisarmos os primeiros relatórios do aconselhamento. As consultas eram sigilosas e não sabíamos o que a psicóloga e Rose conversavam, mas a conselheira deveria apresentar relatórios de diagnóstico do caso que ela estava tratando. Eu estava particularmente ansioso para ler o que ela diria. Eu ainda tentava encontrar uma explicação lógica, ainda tentava cobrir os buracos das teorias de Rose, mas não encontrava nada plausível. Eu confesso que não conseguia acreditar que eram realmente fantasmas.
Naquela tarde, eu caminhava em direção ao meu dormitório. Eu vinha de uma sucessão de ataques a alunos e precisava me limpar. Também sentia o gosto de sangue na boca. Um dos alunos havia me acertado com um livro de capa dura, colocando em prática o que tinha aprendido nas aulas teóricas. Nós dizíamos que um guardião devia usar tudo que estivesse ao seu alcance como arma. Pois bem, este aluno tinha utilizado um livro que estava nas mãos de seu protegido.
De longe, eu vi Rose saindo do prédio administrativo, provavelmente vindo de sua primeira sessão. Em um impulso, caminhei em sua direção, para perguntar se tinha corrido tudo bem. Mas uma pessoa foi mais rápida do que eu, me fazendo parar, próximo a uma árvore: Adrian. Ele havia praticamente surgido atrás de Rose. Eles conversavam e caminhavam para a área comum dos estudantes e eu decidi voltar para o caminho que eu estava seguindo, novamente lutando para controlar o ciúme que eu sentia por ver os dois próximos. Mas aquilo era algo que eu estava trabalhando em mim, uma vez que Adrian estava passando um período lá e estava praticando mágica com Lissa. Isso o colocava praticamente colado a Rose. Não era algo que eu podia intervir ou mudar. Era algo que eu teria que lidar.
Depois de passar o dia inteiro observando os alunos e realizando ataques, eu me sentia exausto. Mas nada se comparava ao meu cansaço mental. Era muito difícil guardar tudo dentro de mim. Algumas horas, o peso de todas aquelas emoções se tornava insuportável. Fui até o refeitório dos guardiões comer algo. Quando estava de saída, Celeste me encontrou.
“Olá Belikov. Quer companhia até o dormitório?” ela tinha um corte em seu rosto, provavelmente provocado por algum aluno ao se defender.
“Eu não pretendo ir para lá. Estava pensando em ir à igreja, antes de me recolher.” Eu disse, sem querer muito entrar em detalhes.
“É um bom lugar para se terminar o dia.” Ela falou sorrindo
Mesmo tendo destinos diferentes, caminhamos pelo campus, conversando assuntos cotidianos, até que chegamos ao ponto que nos separamos. Ela seguiu para o dormitório e eu fui para a igreja. Lá, encontrei o padre Andrew envolvido com seus próprios afazeres. Ele sorriu quando entrei, mas não se dirigiu a mim. Ele já estava acostumado com a minha presença, já que eu ia muito ali, para pensar na vida. Era um lugar onde eu encontrava paz.
Eu gostava de observar a expressão dos santos, enquanto pensava. O cheiro de incenso, a pouca luz e as sombras das velas ajudavam a deixar o ambiente tranqüilo.
Eu me sentei no último banco e fiquei pensado em como a minha vida tinha chegado a este ponto. Há pouco menos de um ano atrás, eu estava na Corte, logo após a morte de Ivan Zeklos, o meu protegido. Eu tinha sido enviado para lá, até ter uma nova designação. Foi quando fui solicitado para trabalhar na Academia. Na verdade, foi uma designação dupla, já que eu também protegeria a princesa Dragomir. Qualquer guardião se sentiria vaidoso com isso, afinal não eram todos que tinham seus conhecimentos de luta reconhecidos ao ponto de se tornarem instrutores de guardiões novatos, e nem eram tão bons para proteger uma princesa da família mais rara da realeza. Mesmo assim, eu não conseguia sentir uma motivação, não conseguia ver um sentido para a minha vida. Tudo isso mudou quando conheci Rose. Eu ganhei um novo ânimo, minha vida teve um novo sentido, ao mesmo tempo em que o pouco de paz que eu ainda tinha, se esvaiu.
Eu estava completamente perdido em meus pensamentos, quando a razão do meu tormento apareceu na minha frente. Rose havia entrado na igreja. Logo, fiquei tenso, imaginado que algo tinha acontecido por ela me procurar ali e próximo da hora do toque de recolher dos estudantes. Mas a sua expressão doce me disse que nada sério tinha acontecido.
Olhar para Rose ali, fez todo meu corpo reagir. Antes eu estava relaxado e descansado, afinal, a igreja era um lugar onde eu me sentia muito bem. Mas quando ela entrou e parou na minha frente, a minha tensão habitual voltou.
“Rose, está tudo bem?” perguntei, já me levantando e indo em sua direção. Ela veio até mim, me fazendo sentar novamente. Ela se sentou ao meu lado, próxima a mim. Muito próxima. E eu me perguntava o que a tinha trazido até aqui.
“Sim... bem, mais ou menos. Nada de colapso, se é isso que lhe preocupa. Eu só tenho uma pergunta. Melhor, uma teoria.”
Eu a olhei atentamente, a encorajando para que contasse tudo. Então ela começou falando toda conversa que teve com Alice, uma alimentadora que Christian sempre via.
“Tudo começou com uma piada que eu fiz com Christian, sobre eu virar um fantasma e voltar para assombrá-lo. Então, Alice falou que se eu fosse um fantasma, eu não poderia assombrar Christian por causa das wards porque as wards funcionam contra os fantasmas da mesma forma que funcionam contra os Strigois. Elas mantém fora tudo que não é vivo. Ela acha que se eu estou vendo fantasmas é porque as wards estão falhando. Você não acha que isso faz sentido? Eu só senti a dor de cabeça enquanto estava fora das wards, durante a viagem, não senti na Corte e nem aqui na Academia. Alice acha que se não for isso, eu estou realmente louca.”
“Eu conheço Alice. Não acho que ela seja confiável.”
Essa Alice era uma humana, viciada em endorfinas Morois e sempre vivia dopada. Não era alguém que podíamos levar a sério.
“Eu sei. Eu pensei a mesma coisa. Mas muita coisa faz sentido.”
“Nem tanto. Como você disse, porque suas visões são tão irregulares aqui? Isso não combina com a sua teoria. Você deveria se sentir como você se sentiu no avião.” Falei, tentando ser racional. Os fatos não estavam se encaixando, embora parecesse uma boa explicação.
“E se as wards estiverem apenas fracas?”
Eu neguei com a cabeça. Aparentemente, Rose não conhecia o processo de renovação das wards. Poderosos Morois, usuários dos quatro elementos, se juntavam para renovar as wards a cada duas semanas, mesmo sabendo que elas levavam meses para começar a enfraquecer. Além do mais, todos os guardiões, durante suas rondas, checavam constantemente se haviam estacas em sua extensão. As estacas podiam quebrar aswards, mas só eram usadas para isso por humanos a serviço de Strigois.
“Isso é impossível. As wards levam meses para enfraquecer e novas são colocadas a cada duas semanas.” Eu expliquei para Rose, que me olhou com um ar de decepção. Eu entendi seu desapontamento. A outra explicação - que falava da loucura - dada por Alice era o que Rose mais temia.
“Tão freqüentemente?” ela perguntou com a voz baixa “talvez elas estejam sendo quebradas. Por humanos, ou algo do tipo - como vimos antes.”
“Guardiões andam pelo território várias vezes ao dia. Se houvesse alguma estaca na fronteira do campus, nós notaríamos.” Eu tinha obrigação de ser racional com Rose. Eu nunca deixei que ela se iludisse com nada, não faria isso agora. O seu olhar triste aumentou, como se sua última esperança de não ser louca tivesse sido destruída. Eu segurei sua mão e ela tentou puxar de volta, mas eu me mantive segurando. Eu queria que ela entendesse que tudo podia, sim, ser desencadeamento do estresse que ela passou.
“Você pensou que se ela estivesse certa, tudo estaria explicado.”
Ela acenou “eu não quero ser louca.”
“Você não é louca.”
“Mas você não acredita que eu estou realmente vendo fantasmas.”
Eu olhei para o lado, encontrando as chamas de uma vela que queimava aos pés de um dos santos. Tentei ponderar tudo mentalmente, mas realmente eu não conseguia acreditar que fantasmas existiam. Era nisso que eu não acreditava. Ao mesmo tempo, eu queria acreditar que Rose tinha razão, como eu sempre acreditei em tudo que ela falava e fazia, e isso era conflituoso dentro de mim. Eram pensamentos opostos que batiam de frente na minha mente. Principalmente, depois do diagnóstico dado pela Dra. Olendzki, isso sim era algo plausível. Nem wards fracas, nem loucura. Apenas estresse.
"Eu não sei. Eu ainda estou tentando manter minha mente aberta. Estar estressada não é a mesma coisa que estar louca.”
“Eu sei. Mas... bem... tem outra coisa...”
Então ela me atualizou dos questionamentos que tinha andado fezendo ao padre Andrew. Eu realmente fiquei surpreso dela se interessar por histórias de santos. Claro, era uma história que tinha muito a ver com o que ela e Lissa estavam passando, mas ainda sim, era surpreendente. Ela contou que Anna, a guardiã do St. Vladmir puxava a escuridão o espírito dele, até que um dia, ela não suportou mais e ficou louca, e terminou se matando em um surto.
“E ainda tem o que Adrian falou. Ele disse que minha aura é negra. Isso não é bom.”
Eu a olhei de forma especulativa. Ela também tinha se aberto com Adrian? Será que ela tinha contado a ele tudo, antes de me contar? Eu tinha que perguntar isso, mas de uma forma que ela não percebesse o que eu queria saber.
“Você contou isso a mais alguém? Lissa? Sua conselheira?”
“Não” ela falou com a voz fraca e olhando para baixo “eu tive medo do que eles poderiam pensar.”
Ela respondeu minha pergunta de forma satisfatória. Mas não pude deixar de me sentir triste com a sua vulnerabilidade. Eu apertei a sua mão com mais força.
“Você tem que parar com isso. Você não tem medo de se jogar contra o perigo, mas fica apavorada em deixar que alguém conheça você.”
“Eu... eu não sei. Talvez” ela falou, voltando a me olhar nos olhos.
“Então porque você me contou?”
Ela deu um pequeno sorriso “Porque você me disse para confiar nas pessoas. Eu confio em você.”
“Você não confia em Lissa?”
“Eu confio nela. Absolutamente. Mas não quero contar a ela coisas que a deixem preocupada. Eu acho que é um jeito de protegê-la. É como manter os Strigois longe.”
Eu admirava muito Rose não só pela força e coragem, mas também por este profundo senso que ela tem sobre ser uma guardiã. E também era muito bonita essa amizade que ela tinha por Lissa. Apesar de toda admiração e da explicação dada, eu ainda não entendia porque Rose não estava demonstrando muita confiança nela. A amizade de Lissa iria fazer muito bem para ela.
“Ela é mais forte do que você pensa. Ela sairia do caminho dela para lhe ajudar.”
“E daí? Você queria que eu confiasse nela e não em você?”
“Não. Eu queria que você confiasse em nós dois. Eu acho que seria bom para você.” Eu olhei para ela, estudando suas feições. Por um momento me ocorreu o pensamento que ela não queria envolver Lissa em tudo isso para não deixá-la culpada caso acontecesse um possível processo de loucura “O que aconteceu com Anna incomoda você?”
“Não” ela olhou para um ponto distante “Me assusta.”
Aquela declaração dela me deixou atordoado. Aquilo que aconteceu com Anna também me assustava, quando eu pensava que era um possível destino para Rose. Eu não podia imaginar o que seria de mim se Rose enlouquecesse. E, apesar de pensar que isso não aconteceria com ela, eu tinha que admitir que era uma realidade muito próxima.
Eu olhei para Rose e algo me disse que ela pensava a mesma coisa que eu. Então, sentindo um enorme carinho tomar conta de mim e obedecendo a um forte impulso de protegê-la, eu passei meu braço em seus ombros e a puxei para junto de mim, a apertando contra o meu peito. Eu senti que ela correspondeu ao abraço, se aninhando contra mim.
Rose me abraçou forte e ouvi um pequeno soluço. Ela estava chorando. Doía muito em mim ver que ela estava tão fragilizada. Era nessas horas que somente eu podia perceber como ela sofria por ser tão cobrada. Eu não tive palavras para dizer a ela naquele momento, então, fiquei apenas passando os dedos gentilmente por seus cabelos.
“Eu não quero ser assim. Eu quero ser como todo mundo. Eu quero que minha mente seja normal... Normal para os padrões de Rose, quero dizer. Eu não quero perder o controle e me tornar como Anna e me matar. Eu amo estar viva. Eu morreria para salvar os meus amigos, mas espero que isto não aconteça. Eu queria que todos vivessem uma vida longa e feliz. Como Lissa sempre diz – uma grande família feliz. Tanta coisa que eu quero fazer, mas eu tenho tanto medo... medo de ser como ela... medo de não ser capaz de parar-“
“Não vai acontecer” eu a interrompi, falando baixo e apertando ainda mais o abraço “você é selvagem e impulsiva, mas no final das contas, é uma das pessoas mais fortes que eu conheço. Mesmo que você seja como Anna – e eu não acho que você seja – vocês duas não precisam dividir o mesmo destino.”
Era verdade. Muitas pessoas passavam por coisas semelhantes na vida e nem sempre tinham o mesmo final. Esse caso de Rose era algo raro, que não tínhamos muita informação sobre ele, mas eu conhecia Rose. Ela não era o tipo que se deixaria vencer tão fácil, mesmo que fosse por algo psicológico. Só a sua força de vontade em não querer que isso aconteça, já era um bom caminho a ser seguido. E, além do mais, eu nunca a deixara sozinha. Mesmo que o pior acontecesse.
Eu continuei passando as mãos por seus cabelos. Eles eram muito sedosos e eu tinha a impressão que podia ficar ali fazendo isso o dia inteiro que não me cansaria. Então algo que eu não tinha pensado antes me ocorreu.
“Você também não está vendo algo” eu acrescentei “se você está em perigo por causa da mágica de Lissa, pelo menos você sabe o porquê. Ela pode parar de usar a sua mágica e será o fim de tudo isto.”
Ela se afastou um pouco de mim e me olhou nos olhos. Com um rápido gesto, ela limpou uma lágrima que ainda corria por sua bochecha. Ela tinha um fio de esperança no olhar.
“Mas eu posso pedir para ela fazer isso? Eu sei como ela se sente quando usa a magia. Eu não posso tirar isso dela.”
Eu me surpreendi com aquele cuidado todo que ela tinha por Lissa. Eu sempre soube que ela era capaz de tudo para proteger sua amiga, mas não imaginava que ela abriria mão do bom uso de suas faculdades mentais por isso. Até eu achava que toda dedicação tinha seus limites.
“Mesmo ao custo de sua própria vida?”
“St. Vladmir fez coisas grandiosas – ela também poderia fazer. Além do mais, eles vês primeiro, certo?”
“Nem sempre.”
Agora, foi a vez de ela me olhar surpresa. Eu sabia exatamente porque. O que eu tinha acabado de dizer ia de encontro a tudo que ela aprendeu durante toda a sua vida. Até um certo momento, eu também acreditava fielmente nisto, mas quando comecei a ver o mundo real, o mundo fora das Academias, percebi que a vida precisa ser mais do que isso. Rose tinha uma visão muito encantada do que era ser um guardião. A cada dia que se passava eu tinha mais necessidade de ter a minha própria vida colocada em primeiro plano, mesmo que eu tenha seguido tudo isso, me dedicado a tudo por muito tempo, depois de conhecer Rose, eu comecei a ter uma nova perspectiva do que era viver.
“Às vezes, você precisa saber quando se colocar em primeiro lugar.”
Ela negou com a cabeça “não com Lissa”.
“Ela é sua amiga. Ela irá lhe entender.”
“É mais do que isso.” Ela falou seriamente e puxou o chotki que Lissa havia lhe dado de presente de natal. Era um pequeno amuleto, com um dragão entalhado em um crifixo. O dragão, símbolo dos Dragomirs. Era uma jóia da família de Lissa que tinha pertencido a guardiã de sua avó. Rose apontou para o centro do pingente “De tudo, isso é a prova. Eu estou ligada a ela. Eu tenho que proteger os Dragomirs a todo custo.”
“Eu sei, mas...” eu não consegui prosseguir com aquela conversa. Estávamos entrando em um assunto que era difícil de explicar a Rose. Eu iria precisar mostrar muito de mim e aquele não era o local e nem a hora apropriada, além do mais, ela não parecia estar aberta para entender isso, não ainda. Com o tempo ela entenderia que Lissa não estava acima de qualquer coisa, que ela deveria ter seus próprios sonhos, seus próprios objetivos de vida.
“Eu preciso voltar” ela falou repentinamente, em um claro corte de conversa “já passou da hora do toque de recolher.”
Eu tive que dar um pequeno sorriso. Antigamente, ela era conhecida por burlar as regras e não respeitar nada, quanto mais um toque de recolher, e agora, estava preocupada com isso.
“E você precisa que eu lhe leve de volta, ou você terá problemas.”
“Bem, sim, eu estava meio que contando com isso.”
Mesmo que ela não tivesse tido esse rompante de ir embora, não iríamos poder conversar por mais tempo, logo, pois o padre Andrew chegou e fez um sinal de que precisaria fechar o templo. Eu o agradeci e saímos, caminhando até o dormitório dhampir. Não falamos mais nada um com o outro durante o percurso, mas não foi um silêncio incomodo, ao contrário, eu gostava muito estar perto dela e cada minuto que eu passava com ela valia o meu dia.
Nós passamos sem problemas pela recepção, ninguém questionou por Rose estar fora do horário dos alunos. Quando ela estava caminhando para a ala dos estudantes, um guardião da Academia chamado Yuri¹ entrou e eu o chamei. Era uma grande coincidência, ele era justamente da equipe responsável pelas wards.
“Você está trabalhando com a segurança, não é? Quando foi a última vez que as wards foram trocadas?” perguntei a ele.
“Dois dias atrás. Por quê?” Ele perguntou pensativamente.
“Apenas curiosidade.” Falei dando a Rose um olhar que ela entenderia bem. Um olhar que dizia que a teoria dela continuava com furos. Ela acenou para mim, mostrando que tinha entendido bem.
Nós nos despedimos, e cada um seguiu para o seu próprio quarto.
Entrei no meu quarto, sem conseguir tirar Rose dos meus pensamentos. Isso já deveria ser uma coisa normal, já que não passo um minuto sem pensar nela, desde que eu a conheci. Mas agora era um pensamento preocupado. Algo me dizia que essa história dela insistir que está vendo fantasmas não acabaria bem. Por mais que eu me esforçasse, eu não conseguia achar algo coerente em tudo isso. Sentei na lateral da cama, apoiando meus cotovelos na perna, repassando cada palavra da conversa que tivemos há pouco. Seria uma longa noite de insônia.
Na manhã seguinte, levantei muito cedo e fui ao ginásio treinar um pouco. Naquela manhã, Rose não treinaria comigo, nosso horário era somente no final da tarde, então me concentrei nos meus próprios exercícios. Quando terminei, me aprontei para a reunião que teríamos para organizarmos os ataques das práticas da semana. Ao entrar na sala, encontrei dois guardiões conversando. Ainda era cedo, faltava um pouco de tempo para reunião. Eu os cumprimentei e fui até a mesinha, que tinha várias bebidas, pegar um café. Mesmo sem querer, não pude deixar de ouvir a conversa deles.
“Os garotos estavam reunidos, contando grandezas. A maioria deles era da realeza e se gabavam de agressões feitas a outros estudantes. Eles estavam em um dos quartos desativados do dormitório leste. Embora nunca tenha presenciado nenhuma das lutas que eles narravam e de não ouvir nenhum outro guardião falando delas, eu não duvido que realmente tenham acontecido.” Um dos guardiões falou. Ele tinha ficado de plantão duas noites atrás.
“Eu já ouvi falar disso. São garotos ricos da realeza que formam uma espécie de sociedade secreta. Em algumas Academias, esta é uma prática proibida. Garotos estúpidos. Como se já não bastasse ter Strigois como inimigos, ficam criando inimizades gratuitas em sua própria espécie.”
“Sociedade secreta?”
“Se chama Mână,” falei, já me intrometendo na conversa, eu estava ali mesmo e eles não conversavam baixo “muitos destes garotos permanecem se encontrando, mesmo depois de adultos. Eles fazem acordos de se favorecerem em seus negócios”
“Mas eles se reúnem só para contar histórias?”
Eu bebi meu café em um único gole “Não sei ao certo o que se passa nessas reuniões, mas eles sempre têm um objetivo. Eu suponho que nem sempre sejam lícitos.” falei.
Eles se olharam de forma pensativa.
Enquanto eu era estudante do campus fundamental, a minha escola teve uma sociedade dessas. Era formado por estudantes mais velhos. Quando eles foram descobertos, eles foram punidos. Eu nunca entendi ao certo por que era uma prática proibida na minha escola, mas algo girava em torno do mau uso de seus poderes mágicos. Bem, o fato é que eu nunca tinha visto qualquer movimento ou reunião destes garotos por aqui. Na certa, eles não se reuniam no meu turno, ou quando eu estava por perto. Eles conheciam bem a minha fama. Sabiam que estariam em apuros se eu os flagrasse.
Eu resolvi pegar outro café e logo os demais guardiões, aos poucos, foram chegando para a reunião e aquela conversa foi esquecida. A reunião começou e tratamos rapidamente dos assuntos da pauta. Logo depois, chegamos em Rose.
Novamente, eles estavam tentando a preservar. No começo eu havia concordado com eles, mas atualmente eu estava achando que tanta proteção já era demais, ela não era um bibelô frágil que deveria ser mantida intocada. Ela seria uma grande guardiã e já podia provar isso para todos. Eu sabia que ela tinha passado por uma situação de extremo estresse mas, tirando o fato dela insistir nos fantasmas, não havia nada demais com ela. Ela era perfeita e saudável.
“Não adianta mantê-la na experiência de campo desta forma” argumentei, colocando na voz um tom muito imponente “ser um guardião não é só ficar seguindo um Moroi, como se fosse apenas a sua sombra. Rose precisa ter sua capacidade de luta testada.”
O silêncio tomou conta da sala. Eu era muito respeitado entre eles e, raramente, alguém ousava me contestar. Eu também não estava assumindo a postura de ‘bons amigos’. Quando eu queria, eu sabia ser imponente até para os próprios guardiões.
“Eu concordo com você, Belikov.” Alberta quebrou o silêncio “mas podíamos deixar o ataque para o final de semana. Os estudantes estarão relaxados. Também aconselho que você participe. Ela já é acostumada a treinar com você, não será tão traumático e, além do mais,” ela deu um suspiro em exaspero “não quero ouvir sermões da Dra. Olendzki.”
Aquilo me soou muito bem. Eu assenti com a cabeça. Os demais guardiões pareciam concordar também. Ainda assim, eu não me dei por satisfeito. Todos os estudantes dhampirs estavam sendo testados à exaustão e, durante os próximos dias, tudo iria se intensificar ainda mais. Além de querer que Rose participasse como os outros, eu também queria que todos vissem como ela era capaz de defender a quem estivesse protegendo. Eu queria que todos vissem o quanto ela é boa. Ela era inteligente e mais dia, menos dia, iria perceber que sua experiência de campo estava sendo mais amena que a dos outros.
“Acho que mais dois guardiões também deveriam participar. Não podemos dar a Rose qualquer tratamento exclusivo.” Permaneci mantendo o meu tom duro.
Alberta deu o que seria a sombra de um sorriso. “Ok, que seja. Vamos realizar um sorteio, como sempre fazemos.”
Ela realizou o sorteio e Yuri e Jean ficaram comigo. Nós atacaríamos no domingo. Tínhamos ainda um resto de semana pela frente. Depois de tratar dos demais assuntos, a reunião terminou, e quase que imediatamente Jean veio até mim. Ela era uma das guardiãs da Academia.
“Ei Belikov, estou ansiosa para lutar com sua aluna. Todos dizem que ela é muito boa, acho que chegou a hora de provar isso, não é?” Seu tom era simpático.
Eu apenas concordei com a cabeça e fui para mais um dia de experiência de campo. A semana se passou rapidamente. Meus dias eram completamente tomados pelo trabalho e, eventualmente, algumas noites, já que eu tinha turnos noturnos de guarda. Eu preferia assim. Enquanto trabalhava eu tinha a ilusão de que manteria minha mente afastada dos pensamentos em Rose. Mas era realmente, só uma ilusão. Eu não deixava de pensar nela nunca, ao contrário, tudo me trazia uma lembrança dela. Eu a via pelo campus, sempre concentrada em manter seu papel de guardiã de Chris. Isso me enchia de orgulho.
Também tínhamos os nossos treinos. Eu não perguntei mais sobre fantasmas, mas sempre perguntava como ela estava. Rose se manteve introspectiva e conversava pouco. Eu também achei que era melhor assim, embora eu não conseguisse mais esconder o quanto eu gostava dela e como tudo aumentava a cada dia.
Quando finalmente chegou o domingo, eu fui à missa, como de costume. Eu tive a informação que Rose estava vendo a sua conselheira, então achei que poderia ouvir o sermão do padre sossegado. No horário da tarde, eu, Jean e Yuri nos preparamos, vestindo nossas roupas pretas, e fomos para o local onde provaríamos a minha aluna.
Nós nos aproximamos do pátio, que dava para o salão do refeitório. Rose caminhava com Lissa, provavelmente indo para o jantar. Nós as observamos, escondidos nas sombras dos prédios, esperando que elas ficassem totalmente distraídas. Elas conversavam e riam, até que um outro novato, chamado Dean Barnes, se juntou a elas, entrando na conversa. Aquela era a distração que precisávamos. Fiz um sinal para Jean, que foi com tudo para cima de Rose, tentando a atacar de surpresa. Mas foi inútil. Ela não foi pega desprevenida.
Rose se colocou imediatamente em modo combate, seu corpo todo respondendo rapidamente aquele ataque, dando um soco em Jean e, ao mesmo tempo, se colocando de forma protetora na frente de Lissa. Jean cambaleou com aquele golpe, foi quando Yuri também entrou na briga, a atacando. Mas Rose, em uma manobra muito inteligente, se posicionou de forma que Jean ficou entre ela e Yuri, e com um rápido chute em Jean, fez com que os dois caíssem. Então ela se posicionou com a estaca e ‘matou’ Jean. Eu parti e me juntei ao ataque, lutando contra Dean, que estava com elas. Ele era um estudante muito fraco e, a principio, tentou se afastar de mim, claramente com medo. Isso me permitiu observar, entre os golpes, como Rose se saía. Ela e Yuri se encararam por breves segundos. Os olhos dela observavam cada gesto do seu oponente, estudando a melhor forma de atacar. Yuri era um guardião bem mais alto que ela e bem forte. Eles se circularam, até que os golpes começaram. Yuri fez um movimento que deixou uma abertura para que Rose o atacasse e foi o que ela fez. Ela o ‘empalou’. Pude observar, pela minha visão periférica, que muitas pessoas haviam se juntado para ver Rose lutar. Principalmente porque eu também estava lutando. Era algo pelo qual as pessoas ansiavam: ver a mim e a Rose em ação.
Ela se virou para ajudar o seu colega de classe que literalmente levava uma surra terrível minha. Eu tinha que admitir que ele era péssimo, um dos piores com que eu já havia lutado. Eu nem precisava usar muita técnica naquilo. Ela estava tão distraída com aquela luta perdida que não parecia me perceber. Então, em um impulso, ela se jogou entre nós, empurrando o colega e se colocando na linha de combate. Agora era só eu e ela.
Como fez com Yuri, ela me olhou, buscando a melhor forma de atacar. Eu a encarei e pude ver uma sombra de hesitação em seus olhos, como se um conflito existisse em seu interior, mas foi algo que se desfez brevemente. Eu precisaria retomar aquela lição com ela no nosso próximo treino: ela nunca deveria hesitar.
Então, ela corajosamente posicionou a sua estaca, e se dirigiu a mim com muita bravura. Eu previ este movimento dela, antes mesmo dela o fazer, por isso a bloqueei facilmente, lhe dando um golpe na cabeça. Ela rapidamente me atacou e eu revidei. Rose era muito rápida, o que compensava sua pouca estatura. Logo, entramos em uma dança perfeita de golpes e contra ataques, como se cada um de nós soubesse antecipadamente o movimento um do outro. Era como se ela pudesse ler meus pensamentos. E quanto a mim, eu já conhecia mesmo todos os seus movimentos, mas mesmo assim, apenas tínhamos simulado lutas. Agora estávamos em uma luta real na qual ela deveria colocar em prática tudo que aprendeu e eu não poderia interrompê-la para corrigir o que quer que fosse. Mas, de fato, não estava precisando de correção alguma. A técnica de Rose era perfeita e eu confesso que raramente havia lutado com um dhampir tão bom. Nem guardiões, com anos de experiência, tinham gestos tão precisos e certeiros. Com a minha visão periférica, pude ver que uma grande platéia tinha se formado para nos assistir. Eu sentia a adrenalina correndo pelo meu corpo, à medida que a luta ficava ainda mais em sincronia. Meu coração estava disparado e eu sentia o suor molhar minha pele.
Foi quando Rose deu uma abertura mínima, que somente eu poderia perceber, eu realmente duvidava que ela mesma tinha percebido aquele vacilo e, então, eu parti para cima dela, usando a força do meu corpo. Eu não consegui pegá-la desprevenida, ela bloqueou como pôde o meu ataque, mas acabou tropeçando. Eu não perdi tempo e a arrastei para perto de mim, a prendendo no chão, usando o meu tamanho e força. Eu tinha que confessar que, mesmo sendo uma luta, com uma grande platéia assistindo, eu não pude deixar de sentir meu corpo reagir com toda aquela proximidade. Seu corpo estava agitado em baixo de mim, sua respiração ofegante batia no meu rosto, trazendo seu doce aroma, eu podia sentir seu coração batendo forte. Ao mesmo tempo, eu sentia uma grande satisfação tomar conta de mim. A luta estava praticamente acabada para ela, uma vez que, seu eu fosse um Strigoi, ela já estaria morta com aquele golpe. Eu havia vencido.
Ou não...
Seria se ela fosse qualquer outra pessoa. Eu já deveria saber que Rose Hathaway não se daria por vencida assim, então ela aproveitou essa minha pequena distração e me acertou uma cotovelada no rosto que a deu uma grande vantagem. Eu recuei e, antes que eu pudesse perceber, ela rolou para cima de mim, tentado me prender e rapidamente posicionando a estaca. Eu lutava para me levantar e ela lutava para me segurar, mas eu era muito mais forte. Sinceramente, Rose era como uma pena em cima de mim, de tão leve. Sabendo disso, ela não perdeu um segundo de tempo e colocou a estaca no meu peito. A luta tinha terminado. Ela havia vencido.
E que luta. Eu realmente gostava de lutar com um oponente tão bom. Eu gostava bastante daquelas práticas de campo por isso, pois eu tinha a chance de lutar com todo tipo de inimigo e, até agora, nenhum dos estudantes tinham sido tão bom como Rose.
Eu ouvi aplausos ao nosso redor, mas eu não conseguia parar de olhar para ela. Apesar de eu ter perdido, eu me sentia vitorioso. A vitória de Rose era a minha também. Uma grande onda de orgulho tomava conta de mim e mais do que isso. Amor. Eu amava muito Rose e amava mais ainda quando ela demonstrava toda a sua força e coragem. Ela me olhava fixamente e vontade que eu tinha era de puxá-la para perto de mim, abraçá-la com força e lhe beijar. Seus olhos me diziam que ela parecia querer o mesmo. Então, uma mão apareceu entre nós, nos tirando daquele transe. Era Jean, se oferecendo para ajudar Rose a se levantar. Quando fiquei em pé, finalmente pude enxergar todos que estavam ali, à nossa volta. As pessoas pareciam felizes, como se estivesse assistindo um espetáculo. Jane e Yuri estavam satisfeitos, olhando para Rose com admiração, enquanto Lissa estava espantada. E Dean, bem, ele estava arrasado.
“Muito bom, você derrubou nós três. Foi absolutamente perfeito” falou Yuri, ainda sorrindo. Eu batia a minha roupa para tirar a terra e a grama, e tentava evitar a todo custo olhar para Rose. Eu me sentia inundado de orgulho e felicidade, sentia vontade de desfrutar tudo aquilo com ela e eu sabia que, se eu a encarasse, eu não conseguiria resistir a esta vontade por muito tempo.
“Eu espero... eu espero não ter machucado nenhum de vocês.” Rose falou, fazendo todos nós rir. Nós estávamos acostumados a isso, mas realmente ela bateu pra valer.
“Esse é o nosso trabalho” respondeu Jean “Não se preocupe conosco. Somos durões.” Então ela olhou para mim, apontando para o meu rosto “ela lhe pegou de jeito com aquela cotovelada”.
Eu esfreguei o rosto, onde eu sentia um pouco de dor, perto do meu olho esquerdo “o aluno sempre supera o seu mestre, ou o empala” eu brinquei, ainda sem olhar para Rose.
“Álcool não é permitido no campus”. Yuri repreendeu Dean, o olhando severamente
“É domingo! Não deveríamos estar em serviço.” Dean choramingou, como fracassado que era.
“Não existem estas regras no mundo real” Jean falou para ele, e depois se voltou para Rose “considere isto um teste surpresa. Você passou, Rose. Muito bem.”
“Obrigada. Queria dizer o mesmo das minhas roupas. Vou ter que me trocar, Liss. Encontro você no jantar.”
“Ok.” Lissa respondeu, com seu rosto brilhando de orgulho por Rose.
“E você,” disse Yuri para Dean “vai dar uma volta conosco”.
Eu e Rose finalmente nos olhamos novamente e senti que ela queria conversar comigo. Eu também queria conversar com ela sobre aquela atuação dela, mas eu não podia. Eu tinha que ir com os outros, dar uma punição a Dean e preparar o relatório sobre o desempenho de Rose. Então, só me restou lhe dar um breve aceno. Sua expressão me dizia que ela entendeu bem que eu realmente queria ficar.
Saímos do pátio. Dean andava conosco, totalmente tenso, visivelmente sem conseguir imaginar o que aconteceria com ele. Ele havia bebido e provavelmente isso tinha diminuído o seu desempenho durante o ataque. Era proibido o consumo de álcool por estudantes, então o levamos para que ele fosse punido. Todos nós sabíamos que muitos estudantes bebiam escondido, mas sempre que flagrávamos algo do tipo, aplicávamos penas disciplinares. Entramos no prédio dos guardiões eles o levaram para a uma das salas de reuniões. Eu fui até o escritório de Alberta, chamá-la para aplicar a sansão, já que ela era a chefe dos guardiões da Academia e a Diretora Kirova não estava no campus. Ela havia aproveitado seu dia de folga para visitar alguns familiares.
Se eu tinha pouca vida social, Alberta não tinha nenhuma. Em pleno domingo, a encontrei compenetrada em um relatório. Ela lia e fazia anotações em um bloco que estava sobre a mesa. A porta estava aberta, mas, mesmo assim, bati no portal e coloquei a cabeça para dentro.
“Temos mais um aluno infrator. Ele fez uso de álcool.” Falei. Ela ergueu seus olhos e fez um ar cansado.
“Esses garotos... quando vão tomar consciência que a vida não é uma brincadeira?”
Eu não respondi e a segui para a sala de reuniões. Nossa ‘conversa’ com Dean Barnes durou menos de uma hora. Alberta começou com um aterrorizador sermão que englobou desde as condutas éticas que um guardião deve ter, até os priores ataques de Strigois que ela presenciou. Por fim aplicamos a punição que resultou em trabalhos comunitários com o Padre Andrew. É, ele sempre se beneficiava dos trabalhos de alunos indisciplinados.
Depois que liberamos Dean e Alberta retornou ao seu escritório. Nós permanecemos na sala ainda, para avaliar o desempenho de Rose. Era uma parte boa da noite, relembrar aquela luta que tive com ela. Nós sempre avaliávamos aluno por aluno. Aquilo ajudaria a compor suas notas e determinaria se ele estaria apto para realizar o teste final e, conseqüentemente, se graduar como guardião. A avaliação era bem prática, consistia em preenchimento de um formulário padrão da Academia, onde marcávamos um ‘X’ para respostas em quesitos como ‘o aluno estava atendo aos seus arredores?’ ou ‘o aluno protegeu seu Moroi durante a luta?’, etc. Na parte de baixo tinha um campo para comentarmos, se achássemos necessário.
Yuri abriu a sua pasta e começou a ler as questões em voz alta. Ele e Jean pareciam muito satisfeitos e impressionados com o desempenho de Rose. Realmente, ela tinha tido um teste perfeito, e eu arriscaria dizer que tinha sido o melhor de todos, até agora. Eu realmente mal podia esperar para ver o teste final de Rose. Eu acreditava cegamente que ela iria ser graduada como a melhor de sua turma. Era um grande motivo de orgulho para mim, principalmente quando lembrava de como Rose era quando ela retornou à Academia. Apesar de ter tido muitos anos de treinamento, o tempo que ela passou fugindo com Lissa a deixou atrasada em relação a sua turma. Eu me lembro bem do seu primeiro dia de aula, sua primeira luta. Foi um fiasco. Eu sabia que o treinamento severo que eu havia lhe dado tinha sua parcela de contribuição, mas nada teria surtido efeito se Rose não fosse tão obstinada e lutadora.
“Rosemarie Hathaway demonstrou muita atenção, reagindo imediatamente ao primeiro ataque, nunca esquecendo de preservar a Moroi que estava em sua companhia, embora não fosse sua protegida. Usou as técnicas de combate e defesa demonstrando muita habilidade e segurança, sendo rápida e prudente. Concluímos que seu teste foi realizado totalmente a contento.” Yuri leu em voz alta. Nós tínhamos que ser o mais técnico possível, durante estas avaliações, não podíamos colocar opiniões pessoais nelas, somente profissionais. Eu podia sentir que a vontade deles era e mesma que a minha: incrementar aquele relatório com palavras como ‘incrível’ e ‘fantástico’. Mas o relatório permaneceu como estava. Nós assinamos e finalizamos a reunião.
“Estou faminta.” Disse Jean “vou sair daqui direto para o refeitório. Vocês me acompanham?”
Yuri assentiu, mas eu disse que não iria. Eu não estava com fome, pois tinha feito um lanche no final da tarde.
Nós já estávamos saindo da sala de reuniões, quando o telefone tocou. Jean atendeu, falou algo brevemente e, logo depois desligou.
“Era da recepção. Tem uns alunos procurando por você, Belikov. Disseram que era urgente.”
Eu não conseguia imaginar o que poderia ter acontecido, à uma hora daquelas. Já havia passado da hora do jantar e estava próximo do toque de recolher, além do mais era um domingo. Os alunos não sabiam, mas a segurança era reforçada quando eles estavam de folga, somente para o caso de algum deles se excederem em suas diversões. Nenhum guardião havia reportado nada. Desci as escadas com passos largos, com Jean e Yuri me acompanhando. Chegamos à recepção e me deparei com Eddie, Chris e Adrian.
O rosto de Chris se iluminou quando me viu, apesar da preocupação brotar de seus olhos azuis.
“Guardião Belikov!” ele gritou antes que eu pudesse perguntar o que tinha acontecido “você precisa nos ajudar, algo sério está acontecendo com Lissa. Rose sentiu e, dessa vez, foi muito estranho. Parecia que ela estava sentindo muita dor. Rose correu até ela, mas creio que é algo que esteja a machucando.”
“Eles estão usando magia contra ela. Eu posso sentir. Não sei como, mas eu posso sentir. Lissa está usando o espírito de forma ruim. É um poder muito forte... e negro.” falou Adrian, soltando uma nuvem de fumaça. Seus olhos eram totalmente perdidos e sua expressão atemorizada. Ele suava frio e em nada parecia o Adrian arrogante com o qual todos estavam acostumados.
“Vocês sabem, ao menos, qual direção Rose tomou?” perguntei, tentando manter a calma, mas era claro para mim que algo sério estava acontecendo. Rose sempre recorria a mim para ajudá-la, quando Lissa estava em perigo, e desta vez não. Ela não teve tempo sequer de vir até mim.
“Noroeste do campus, entre o lago e a cerca. Foi isso que Rose falou, antes de sair correndo.” Eddie falou, tentando manter a calma de um guardião. Eu me virei para a recepcionista.
“Acione os guardiões que estiverem no campus. Todos. Estejam eles em serviço ou não. Peça para que me encontrem neste local. Diga a eles que é uma situação de alerta.” Falei autoritariamente e saí.
Eddie partiu correndo na frente, antes que eu pudesse falar qualquer coisa com ele. Eu o segui e pude perceber que Christian e Adrian vieram atrás, mas eles não conseguiam me acompanhar. À medida que cruzávamos os pátios, vários guardiões se juntavam a nós, um deles foi Celeste.
“É o meu turno, Belikov” ela falou correndo ao meu lado “o que está acontecendo?”
“Algo grave que vamos descobrir em pouco tempo”
Quando chegamos próximo ao local indicado, Eddie já estava lá, tentando segurar uma Rose totalmente enfurecida. Paramos e eu avaliei cautelosamente a situação. Lissa estava em uma cadeira, totalmente ensopada. Seu rosto estava muito machucado e sangrava em alguns pontos. Próximo a ela, tinha dois alunos Morois, um era Ralf e o outro Jesse, completamente machucados. Provavelmente foram espancados por Rose. Eu não conseguia entender, a princípio, o que estava acontecendo, mas rapidamente juntei as peças. Por algum motivo, eles estavam machucando Lissa e Rose partiu em sua defesa.
Eu olhei para Rose e aquilo me assustou. Seu rosto estava irreconhecível. Seu olhar era de puro ódio e ela se debatia nos braços de Eddie, com toda a força. Era surpreendente que ele estivesse conseguindo a segurar. Ela estava tomada por algo muito forte e eu definitivamente não a reconhecia naquele momento.

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¹ O Yuri deste capítulo nada tem a ver com o Yuri que ajudou eles a ver Victor na Corte... Foi uma distração minha, eu não observei que teria esse nome mais na frente.. espero que não fique confuso.

9 comentários:

  1. Amei as suas versões de VA no ponto de vista do Dimitri!Só fiquei chateada com uma coisa: você não vai mais postá-las?

    Jéssica.

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  2. Continua postando por favor! Estou adorando a fic e estou super ansiosa pela continuação... :)

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  3. gente estou louca pra ler a continuação

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  4. gente eu amo essa serie mas tem um livro que estou louca pra ler que é o ultimo sacrifício ler ele sendo interpretado por dimitri deve ser a coisa mais linda do mundo não sei se vai ter mais postagem mas espero que sim .

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  5. Não tem a quarta parte? Estou doida para ler!

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  6. Olá oque ouve que você parou com as fanfics? São tão boas e você esta de parabéns. Finalize por favor. Você não vai postar mais nada?

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  7. CARAMBA!!!!! Nunca vi uma fanfic tão boa como essa. Boa é pouco, ela é perfeita, maravilhosa. Sua escrita é idêntica à de Richelle. Parece a própria narrando os fatos na visão de Dimitri. Eu adoraria que você finalizasse essa fic.E creio que outras pessoas também. Você arrasoul.PALMAS É POUCO PARA VOCÊ! É MELHOR TOCANTINS INTEIRO! Perfeito demais.Continue e deixe mais pessoas felizes por favor

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  8. Continue por favoooooooooooooooor!!!!!

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